terça-feira, 6 de dezembro de 2011

FISIOTERAPIA COM AMOR ESTIMULA CRIANÇAS A ANDAR

Ana Carolina, 5 anos, deu um presente para a mãe, a administradora de empresas Joana Ferreira Di Bernardo Ribeiro, 41, nas vésperas do Dia das Mães deste ano. A menina, que nasceu prematura e pesando apenas 1,4 quilo, teve encefalopatia crônica não evolutiva da infância, popularmente conhecida como paralisia cerebral. Jamais havia andado sozinha até aquele dia. "Quando vi minha filha caminhando na minha direção, foi impossível não chorar. Foi uma conquista."

A pequena Ana Carolina foi beneficiada pelo método CME, da sigla Cuevas Medek Exercises, desenvolvido pelo chileno Ramón Cuevas. A fisioterapeuta Regiane Krakauer Kuhn é a única da região que trabalha esse tipo de exercícios em seus pacientes com lesões do sistema nervoso central.

A prática causa estranheza no primeiro momento, pois grande parte dos exercícios é aérea. Mas impressiona ver crianças com desenvolvimento motor atrasado se equilibrar em tábuas de madeira ou fazer poses de bailarina, como a pequena Ana Clara, 3 anos e 7 meses. "A Ana Clara é um sapinho e vai virar uma bailarina. Mas o pai tem de virar bailarina também", diz Regiane. A menina sorri, mas demora a levantar. Só o faz quando o pai, o analista de qualidade Luiz Carlos Cruz, 42, levanta os braços para imitar a bailarina. "Aqui o pai tem que participar e comemorar cada progresso da criança", comenta a fisioterapeuta.

Algo que é motivo de alívio para Luiz Carlos e a mulher, a esteticista Valéria de Sousa Bruno, 39. "Acompanhar os exercícios e ver como a Ana Clara se comporta é ótimo. Faz com que a gente acredite no trabalho desenvolvido."

A mesma opinião tem o casal Vanessa, 35, e Alexandre Sueiro dos Santos, 36, pais da pequena Isabela, 2. Durante consulta de rotina após oito dias do nascimento da menina, o médico detectou que ela tinha má formação congênita no coração. "Ela passou por cirurgia e teve uma lesão, provavelmente provocada por falta de oxigênio no cérebro."

Ao perceber que a filha estava atrasada em relação aos demais bebês de sua idade, os pais começaram a fisioterapia convencional. Vanessa se desesperava ao ouvir o choro da filha do lado de fora do consultório, sem poder participar ou ver o que faziam com a menina. "Queria ajudar, mas diziam que eu poderia machucá-la."

Com o CME, ela e o marido acompanham cada momento de evolução da pequena, e auxiliam no processo. "Aprendemos a melhor forma de estimular nossa filha para que ela alcance os melhores resultados. Não estamos preocupados se ela vai andar ou não, porque antes disso há diversas metas que devem ser atingidas", explica Vanessa.

VIAGEM

Ana Carolina, a única das três meninas que já alcançou a meta de andar sozinha, viajou com Regiane para o Chile, em abril deste ano, para fazer o nível 2 do curso ministrado por Ramón Cuevas. A mãe da menina foi uma das que patrocinou a viagem da fisioterapeuta, que fez o nível 1 com outros 20 terapeutas na Capital, mas no nível 2 pode acompanhar Cuevas, das 7h às 22h, durante uma semana, atendendo a pacientes da Turquia, Estados Unidos, Venezuela, Argentina e Brasil.

O dinheiro investido por Joana, que não precisou o valor, valeu a pena. A pequena Ana Carolina passou a andar após um mês do retorno ao País.

O tratamento inovador não é barato: cada sessão custa R$ 120, e há crianças que precisam de três delas por semana, caso de Ana Carolina. Mas os pais garantem que o esforço vale a pena e os resultados compensam.

 Exercícios reforçam recuperação natural

 Cuevas Medek Exercises foi criado e desenvolvido pelo fisioterapeuta chileno Ramón Cuevas, na década de 1970, na Venezuela. O princípio fundamental é baseado no fato de que as crianças que possuem comprometimento no desenvolvimento precisam reforçar o potencial de recuperação natural.

Esta propriedade do sistema nervoso central continua a estimular o desenvolvimento mesmo após a lesão. "Em casos de encefalopatia crônica, cerca de 80% do cérebro não é lesado, mas ele fica imaturo e precisa ter a capacidade de regeneração estimulada", explica a fisioterapeuta Regiane Krakauer Kuhn.

O método é indicado para crianças com lesão do sistema nervoso central, como a paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento motor e doenças genéticas como a síndrome de Down. É contra-indicado para doenças progressivas, musculares ou para crianças menores de 3 anos, no caso de fisioterapeutas que não possuem o nível 3 do treinamento.

Segundo Regiane, o CME difere dos métodos tradicionais de fisioterapia por diversos fatores. Entre eles, o choro e a vontade da criança não são impeditivos para a realização dos exercícios. "O que queremos é a resposta automática do corpo contra a gravidade."

Além disso, os apoios manuais do terapeuta não facilitam o movimento, mas provocam a reação. Um exemplo é forçar as mãos da criança para baixo para que ela possa andar, e não segurar os bracinhos para cima, como a maioria dos pais faz quando o filho está aprendendo os primeiros passos.

Outro diferencial é o estímulo para que os pais façam os exercícios em casa com a criança. "A participação da família é essencial para se alcançar os resultados", destaca Regiane.

A meta da fisioterapeuta é fazer no ano que vem o nível 3 do método, e depois o 4, que permite dar aulas. "Quero difundir e ajudar a ampliar o número de crianças que podem se beneficiar dos exercícios." 
Fonte: dgabc.com.br

Sente só!

Ser Fisioterapeuta na atualidade: um compromisso ético


O Fisioterapeuta possui uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Detém visão ampla e global, respeitando os princípios éticos/bioéticos, e culturais do indivíduo e da coletividade (Cartilha de Apresentação da Atuação do Fisioterapeuta no Sistema Único de Saúde, 2005, p.9).

São com estas palavras que a Cartilha de Apresentação da Atuação do Fisioterapeuta no SUS conceitua o fisioterapeuta na atualidade. Mas, afinal, estaríamos nós, fisioterapeutas, buscando otimizar nossa prática de forma a atender esta proposta teórica? 

Vivemos um tempo de contradições, entre o desenvolvimento notável da técnica e uma profunda crise ética. Esta crise é facilmente demonstrável pela competição (não cooperação) e pela quantidade (não qualidade) que têm sido a regra nos meios de produção intelectual [FERRARA, 2003]. Para muitos, ter valor científico é considerar essencialmente a precisão, o teste e a comprovação. Sem dúvida, essa visão fragmentável e controlável deu certo em muitos campos da ciência; porém, explicar fatos humanos é totalmente ineficaz, uma vez que estes contam com uma forte interação de variáveis (BLOIS, 2001), tais como as emoções, as percepções singulares, estilo de vida, etc. 

Um discurso técnico, somado a presunção de que a cura depende somente do poder da ciência, acabam por desvincular o sujeito da doença, fazendo com que o paciente não passe de um mero objeto de diagnóstico. É função do profissional ajudar o paciente a se reunir com seu corpo, impedindo que este se torne objeto de um tratamento generalizante. O conhecimento científico inclui instrumentos para avaliar a evolução da doença, mas sobre a solidão e o sofrimento ele pouco sabe (SCHILLER, 2000, p.105). O profissional precisa construir estratégias capazes de oferecer conforto, segurança e tranqüilidade, pois quem sofre não busca quem lhe dê razão, busca presenças cuja escuta será testemunha de uma fala (SCHILLER, 2000, p.105). 

Perturbada por esta crise epistemológica implícita no contexto do século XXI, a ética não pode ser mais considerada como um tema filosófico entre outros, mas como o problema por excelência da atualidade (SOUZA, 2004, p. 62). Parto do pressuposto de a ética é o próprio fundamento para pensar o humano (SOUZA, 2004 p.19), constituindo assim um plano de fundo essencial para a compreensão de qualquer questão humana relevante. É de extrema importância buscar conhecer os limites do próprio pensamento, compreendendo a abertura da relação com a Alteridade, o diferente, que desborda todo o discurso auto-suficiente (SOUZA, 2000). Desta forma, a ética é a nova origem de compreensão da própria questão do sentido, podendo ser compreendida como o pensar das relações humanas reais que dá lugar ao agir humano real. 

Ser fisioterapeuta, portanto, num contexto de complexidade crescente, não é somente dominar técnicas para melhorar patologias, é, sobretudo, contribuir com soluções para os problemas sociais, de uma forma que configure sua identidade na sociedade. O fisioterapeuta deve lembrar que seu paciente não possui somente um determinado distúrbio, mas sim um fenômeno complexo, com múltiplos níveis, inclusive não patológicos, e, como fenômeno, o evento deve ser tratado em toda a sua extensão, de forma humana. 


Autora: Laura Patrício de Arruda

Fisioterapeuta e Filósofa. Mestranda em Gerontologia Biomédica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. E-mail: laurinh@terra.com.br

 Fonte: www.crefito5.org.br